Cannabis e saúde mental: uma alternativa terapêutica

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A pandemia da COVID-19 trouxe consigo outra pandemia: a dos problemas de saúde mental. Isolamento social, incertezas, perdas de pessoas queridas e muitos outros fatores desse cenário foram determinantes para que milhões de pessoas desenvolvessem patologias como ansiedade e depressão. Portanto, o acompanhamento médico tornou-se muito importante, para promover o cuidado  necessário e controlar o impacto dessas condições garantindo uma melhor qualidade de vida.

Com esse boom das doenças mentais, aumentou também a procura pela cannabis medicinal como aliada nos tratamentos. Inclusive, nos Estados Unidos, os dispensários de cannabis – lojas onde a planta é comercializada legalmente – foram considerados serviços essenciais e permaneceram abertos mesmo em períodos de restrições de circulação  mais rígidos.

Os efeitos calmantes do canabidiol (CBD), um dos principais canabinoides da planta, têm despertado a curiosidade e cada vez mais pacientes e médicos buscam informação sobre o tema.

Um exemplo recente e que ganhou as manchetes foi a declaração da cantora americana Beyoncé: ela afirmou em entrevista à revista ‘Harper’s Bazaar’ estar usando com sucesso o CBD para tratar problemas de insônia. A cantora informou ainda estar construindo uma fazenda de cânhamo – variação da cannabis com baixo teor de tetrahidrocanabinol (THC),  componente psicoativo da planta.

cannabis e saude mental

Cannabis e saúde mental no tratamento de doenças psíquicas

Mas afinal, para quais problemas de saúde mental a cannabis pode ser uma alternativa terapêutica? Neste texto destacamos alguns deles.

Conheça problemas de saúde mental tratáveis com cannabis medicinal:

Ansiedade

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) os casos de ansiedade no Brasil chegam a 18,6 milhões, pouco mais de 9% dos habitantes do país. Já éramos o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e a pandemia agravou esse quadro, inclusive com o surgimento de um novo transtorno: a coronofobia, descrita pela primeira vez em dezembro de 2020 num estudo publicado pelo Asian Journal of Psychiatry e caracterizada por medo excessivo, persistente e irreal de situações, pessoas e objetos.

Também são considerados transtornos de ansiedade: fobias; Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC); ataque de pânico; Transtornos de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e ansiedade generalizada

A cannabis pode ser positiva no tratamento destes transtornos, porque o CBD atua no sistema endocanabinoide existente no organismo humano. Ele é responsável por manter a homeostase, ou seja, atua no equilíbrio do corpo, para que este desempenhe suas funções corretamente. Pesquisas mostram que, ao interagir com o sistema, o CBD pode ativar receptores de serotonina, causando no organismo um efeito relaxante e até sonolência.

A terapia com o CBD ainda tem as vantagens de ter efeito rápido e provocar menos efeitos colaterais ante os remédios tradicionais.

Além disso, há estudos que mostram a capacidade do CBD de induzir alterações neuroplásticas no córtex pré-frontal e no hipocampo (estruturas envolvidas no desenvolvimento de transtornos psicológicos), o que eleva seu potencial terapêutico.

Dentre os muitos estudos já desenvolvidos relacionando cannabis e ansiedade, está um levantamento realizado no Brasil, em que voluntários saudáveis, animais e pacientes com transtornos de ansiedade foram expostos ao CBD e avaliados. Os pesquisadores concluíram que o canabidiol possui propriedades ansiolíticas e não promove efeitos psicoativos e nem afeta a cognição.

Depressão

A depressão é mais um grave problema de saúde mental muito presente no Brasil, sendo a principal causa de suicídios no país. De acordo com a OMS, 12 milhões de brasileiros convivem com a depressão.

O CBD pode ser um aliado no tratamento da doença pelo mesmo motivo que é eficiente no combate à ansiedade: ele atua no sistema endocanabinoide e ajuda a equilibrar o organismo.

Os estudos com este viés também são vastos e vêm de toda parte do mundo. Aqui no Brasil, Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), realizaram recentemente uma revisão literária dos principais avanços no potencial uso terapêutico de alguns compostos canabinoides em psiquiatria.

O resultado confirmou o potencial terapêutico do CBD como antipsicótico, ansiolítico e antidepressivo.

Outro estudo realizado na Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, avaliou os efeitos imediatos do consumo de flores ou “brotos” naturais de Cannabis para tratar os sintomas de depressão. As informações foram coletadas no Releaf App, um aplicativo móvel que ajuda os usuários a gerenciarem o consumo da planta, a partir do registro das alterações em tempo real na intensidade dos sintomas e efeitos colaterais. Foram analisados os dados de 1.819 pessoas que completaram 5.876 sessões de autoadministração de cannabis. A conclusão foi que 95,8% dos usuários experimentaram alívio dos sintomas da depressão após o consumo. 

Mais um levantamento, este realizado em 2018 por meio de uma colaboração entre cientistas do estado de São Paulo e da Dinamarca, também apontou resultados positivos no uso do CBD no combate à depressão.

O experimento com ratos com sintomas depressivos levou à conclusão, após uma única aplicação de CBD, de que os traços relacionados à depressão sumiram no mesmo dia, enquanto as consequências benéficas da aplicação perduraram por uma semana. 

saúde mental

Síndrome de “burnout”

A síndrome de “burnout” é caracterizada pelo esgotamento físico e mental extremo e também teve sua prevalência ampliada no contexto de pandemia, especialmente entre os profissionais da saúde.

Em um estudo realizado no Hospital Universitário da USP de Ribeirão Preto (SP), profissionais da linha de frente do combate à COVID19 em hospitais foram tratados com CBD. O ensaio clínico contou com 120 voluntários que foram divididos em dois grupos iguais: um deles recebeu 300 mg diários do medicamento (1 ml), e outro não recebeu, para efeito de comparação. Todos os profissionais de saúde no estudo passaram, porém, pelo tratamento padrão contra o “burnout”, que incluiu consultas com psiquiatras e exercício físico de baixo impacto.

Os resultados da análise mostraram que o medicamento reduziu sintomas de fadiga emocional em 25% nos voluntários, depressão em 50% e ansiedade em 60%.

Tenho problemas de saúde mental: posso me tratar com cannabis medicinal?

O tratamento dos transtornos de saúde mental com cannabis medicinal está se disseminando rapidamente no Brasil. Os médicos podem fazer a prescrição por meio de receitas especiais e já é possível realizar a compra do medicamento em farmácias – infelizmente a preços exorbitantes – o Canabidiol 200mg/ml, da farmacêutica Prati-Donaduzzi, estava custando cerca de R$ 2,2 mil na primeira semana de setembro.

Uma opção são as associações de cultivo, que reúnem pacientes e conseguem autorizações judiciais para o plantio da cannabis e produção do óleo de CBD.

Assim, a resposta é: sim, você pode se tratar com cannabis medicinal, mas o acesso ainda é cheio de entraves e desafios. A situação só vai melhorar, de fato, com a legalização. Junto com ela virá a criação de toda uma indústria em torno da planta, o que garantirá preços mais acessíveis e o direito à saúde para todos.

Neste post falamos sobre a cannabis medicinal e seus benefícios terapêuticos. Aproveitando queremos  indicar a série “Cannabis Thinking Talks” em que trazemos nomes de todo o mundo para abordar o assunto da Cannabis de forma séria e qualificada.

Veja a entrevista super rica, Mechoulam fala sobre pesquisas pioneiras que realizou em parceria com o médico brasileiro Elisaldo Carlini, estudando o efeito do canabidiol (CBD) – substância não psicoativa da cannabis – em pacientes com epilepsia. Abordou também o efeito entourage da cannabis, seus benefícios no tratamento de doenças como esquizofrenia e ansiedade, bem como o cenário atual da cannabis medicinal no mundo e muito mais. Assista à conversa completa:

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